terça-feira, 1 de novembro de 2011

Carnavais antigos ainda na memória



Brotas sempre realizou grande Carnaval, tradição que incluía bailes, blocos, fantasias e caretas
Carnaval antigo em Brotas, festa realizada mesmo com luz de motor a óleo diesel. Não tínhamos clube – ainda não temos – e a folia era realizada ou no Mercado Municipal ou no Ala B (onde hoje funciona a EBDA). Falar da festa de Momo tem que se referir ao primeiro Carnaval, organizado lá para os idos de 1946 ou 1947, por Vitória Arcanjo Ribeiro. Esposa do juiz Dr. Sebastião, ela caprichou nos preparativos, que incluiu desfile festivo pelas ruas e baile nos salões do destruído sobrado da Praça Dr. João Borges.
Conta-se que a festa foi de arromba e só não se repetiu a pedido da filha da organizadora que teria feito uma promessa. Esta filha, Clarice, mais tarde veio a se tornar religiosa, só deixando o hábito muitos anos depois, para cuidar do pai idoso e doente. Mas voltando aos carnavais em Brotas, vale o destaque aos bailes organizados pelo professor Davidson Carrilho e sua esposa Dona Norberta. São famosas as fantasias construídas por essa foliã que foi sem dúvida, uma das grandes incentivadoras do Carnaval, principalmente na década de 60.
Depois, plena ditadura militar, muitos jovens tomaram para si a tarefa de organizar a folia momesca, que naquela época era festejada na data certa e não antecipada como nos dias de hoje. Lembro que escutávamos as marchinhas no rádio, copiando-as para à noite ensinar aos músicos – Jani, seu Nivaldo, Valdinei, Tonhá e Joaquim, nomes em sua maioria da família Campos de tradição nas artes musicais. Além disso, lavávamos o salão, decorando-os e vendíamos as mesas e ingressos sem auferir qualquer lucro com isso.
A juventude se reunia, ou na casa de um dos músicos ou no Bar Arvorada, do saudoso Miruzinho, onde promovia os tais ensaios que volta e meia terminavam em bailes antecipados. Quando fui estudar em Salvador, lá para os idos de 1969 era assim, continuando por alguns anos. Com Olival Bastos Quinteiro promovíamos sadias disputas para ver quem colocava o melhor bloco na rua e no clube. Bons tempos.
A tradição dos blocos de Carnaval vem dessa época, com destaque para o bloco Jóia – “Jo-jo-jo-jo jóia/o nosso bloco é uma joia/olha que coisa legal/chegou o bloco Joia e animou o Carnaval...” Teve também o Cordão da Bahia, Secos e Molhados – o pessoal passou horas se preparando, mas a tinta que reproduzia no rosto a marca do grupo musical que emprestava o nome ao bloco acabou provocando queimaduras em algumas pessoas. Mesmo assim o bloco saiu, assim como o Capop, com sua mortalha irreverente e a letra da música que dizia pouco se importar com a opinião pública.

Minha irmã Nora Ney (saudosa memória) e Antônio Cleuber Lopes com fantasia estilizada de índios americanos. Na foto, sentadas, Hildinha de Ziru e Vanda de Chico

Esses são primórdios dos blocos carnavalescos em Brotas. E muitos outros seguiram-se, inclusive com o famoso Jegue Trio e a rapaziada vestida de mulher. Outra tradição nos carnavais antigos, além de fantasias caprichadas, principalmente entre as moças, eram os mascarados. Os caretas são uma marca do Carnaval brotense, mas ultimamente começam a desaparecer.
Vestir-se de careta era uma tradição e mobilizava grupos de homens e mulheres, jovens e até crianças. A máscara do Diabo usada por Jurandi Martins assustou muitas gerações de meninos e meninas. Havia também os cacarecos – mascarados que usavam uma peneira, um cabo de vassoura e um lençol para o desfile nos dias de folia.

Há poucos anos o Carnaval de Brotas foi antecipado e acontece uma semana antes da folia original. O trio elétrico foi incorporado e com ele os blocos de abadá. Os Alcoólicos marcou época nas ruas e hoje reúne-se apenas numa festa fecha open bar. Nas ruas mesmo, tem o Psiu Psiu e o Fica Comigo. Muito poderia se falar dos Carnavais antigos de Brotas, mas fico por aqui e espero ter atendido a um pedido especial feito pela grande amiga Iêda Rodrigues.


A tradição dos caretas mantida em várias cidades baianas e do Brasil está desaparecendo em Brotas

2 comentários:

  1. Já desapareceu. Uma pena. Lembro qdo criança, era uma festa. Uma mistura de Medo e de Curiosidade pra saber quem estava por baixo daquelas máscaras.

    ResponderExcluir
  2. PARABÉNS PELO RESGATE E POR RELEMBRAR BROTAS DO PASSADO. PRECISAMOS ACORDAR AS AUTORIDADES PARA A URGENTE PRESERVAÇÃO DA NOSSA HISTÓRIA COM CRIAÇÃO DE UMA SECRETARIA ESPECIFICA PARA CUIDAR DA PRESERVAÇÃO DA MEMORIA DESTA ENCANTADORA TERRA

    ResponderExcluir