segunda-feira, 4 de junho de 2012

Brotas de luto com a morte de Padre João Cristiano

               Padre João, o holandês brotense que deixa um legado às nossas gerações futuras

     Saida do funeral na sede da Escola Santo Anfonso: comoção em Brotas pela morte do padre João

Clima de emoção e sentimento de gratidão marcam o funeral do holandês que escolheu esta cidade com sua pátria


Uma multidão participou das últimas homenagens ao Monsenhor João Cristiano neste domingo (3) em Brotas de Macaúbas, onde o religioso católico morreu na manhã da última sexta-feira. “Padre João”, como era chamado pelo povo, viveu em Brotas desde o final dos anos 60, exercendo ainda o sacerdócio em Barra do Mendes, Ipupiara, Morpará, Ibipeba, Oliveira dos Brejinhos, Ibotirama e Barra. Nascido na Holanda como Johannes Christiaan Franciscus Appelboom, o ele escolheu esta cidade para sua missão evangelizadora e de promoção social, fundando aqui a Escola Maria Gorete (1971 a 1977) e a Escola Santo Afonso (1978), além de implantar as Comunidades Eclesiais de Base.

O funeral de Padre João foi marcado pelo sentimento da gratidão. O clima de emoção tomou conta de cada uma das pessoas que passaram ao lado do caixão para as últimas despedidas. Lágrimas e depoimentos, sempre ressaltando a grande figura humana e religiosa foram o destaque. Do prefeito Litercílio Nunes ao mais simples dos presentes todos foram unânimes em reconhecer a obra deixada pelo religioso. Um legado de valor incalculável e que deve ser preservado para que as futuras gerações também possam ser igualmente beneficiadas.

           Velório na capela da Escola Santo Afonso: grande sentimento coletivo de pesar e saudade

 Orações na hora do adeus ao padre João durante o sepultamento no Cemitério Municipal de Brotas

     Multidão acompanha o enterro do padre João na manhã do último domingo (3 de junho)

SENTIMENTO DE PESAR

A morte de padre João Cristiano deixou um grande sentimento de pesar entre os brotenses. No velório, realizado na Escola Santo Afonso, na missa de corpo presente, celebrada pelo bispo Dom Luiz Cappio, na igreja Matriz e na missa de despedida, celebrada na capela Santo Afonso, praticamente todos os habitantes de Brotas e muita gente vinda de outras localidades foram dar o último adeus ao religioso. Em cada um deles, o sentimento pela perda era visível.

Como expressou a professora aposentada Ivete Marise, que atuou 20 anos como ministra da Eucaristia, “Brotas e sua gente devem muito a este homem de Deus que dedicou boa parte de sua vida a fazer o bem, dar testemunho de fé e promover principalmente aqueles menos favorecidos”. Pensamento semelhante expressou outra professora, Lélia Porto, que trabalhou com Padre João desde o início de sua jornada religiosa em terras brotenses. Ela recordou desses primórdios, “quando nosso trabalho era visto como coisa de terrorista. Mas o padre João nunca teve medo de nada e seguiu em frente”.

A professora Selma Mutim postou na internet que “o monsenhor João Cristiano foi muito importante na minha formação cristã e de muita gente. Estará sempre em nossas lembranças”. Já Edvaldo Luiz, no Facebook, destaca: um grande homem, uma pessoa muito especial que me ensinou muito sobre a vida. Um exemplo de vida religiosa e dedicação a igreja”.

          Com o povo, padre João assiste à apresentação do Auto de Nossa Senhora

50 ANOS DE SACERDÓCIO

Em dezembro de 2011, Padre João Cristiano foi homenageado pela população pelos 50 anos de vida sacerdotal. Houve almoço na Escola santo Afonso, missa solene na Matriz, coquetel de confraternização e apresentação teatral. O religioso, que já havia atuado como ator na adolescência assistiu com o povo a apresentação do Auto de Nossa Senhora, na estreia do grupo Cultural Cayam-Bola, do qual se tornou padrinho.

No texto da peça, que contava a história de Brotas de Macaúbas, a partir do milagre da vaquinha atribuído a Nossa Senhora, ressaltou-se em versos o trabalho de Padre João:

 Boa noite minha gente/Estamos aqui pra brincar

 Contar uma linda história/E também comemorar

 50 anos de sacerdócio/De uma figura sem par

Monsenhor João adotou essa terra/E aqui exemplo grande deu

Vindo de terra holandesa/Em Brotas se estabeleceu

Com sua fé e trabalho/Muita gente promoveu

A Escola Maria Gorete/E As CEBS implantou

A Escola Santo Afonso/São exemplos de valor

De um homem que sua vida/Toda a Brotas dedicou

Pra homenagear Monsenhor João/Seguidor de Nossa Senhora

Nos 50 anos do seu sacerdócio/Contaremos nesta hora

O milagre da Santa/E um pouco da nossa história”.
                                                                                                                                              Foto arquivo
 Nos 25 anos de sacerdócio, há 25 anos, bolo e homenagens ao padre João

AÇÕES EMERGENCIAIS

Como relata o vice-prefeito Ailton Ribeiro Alcântara em “Comunidades de Base na década de 1970: a formação de lideranças na Paróquia de Brotas de Macaúbas, Diocese de Barra (BA)”, “as primeiras ações emergenciais da Paróquia foram as campanhas de conscientização para a higiene dentro de casa e a prevenção de doenças: eram campanhas de fossas, filtros, chuveirinhos (baldes com chuveiros embutidos)”.

Ele explica que “a Paróquia chegou a fazer uma espécie de fundo rotativo para que as famílias adquirissem filtros. Foram dessas campanhas e das reflexões feitas nos conselhos de comunidades que surgiu a necessidade de criar as equipes de saúde nas comunidades e preparar atendentes de saúde e também as parteiras tradicionais para estas, para se atender as necessidades da área e também ser mais uma comissão para mais pessoas assumirem tarefas na comunidade”.

O documento relata que “o mais grave problema na época era a mortalidade infantil. Muitas crianças morriam do “mal de sete dias” (o tétano), decorrente de infecções causadas no momento do parto, especialmente no corte do cordão umbilical. Para orientar essas equipes de saúde, havia a formação dos atendentes de saúde. Eram realizados cursos de qualificação e, durante a atuação dos(as) atendentes, uma pessoa da Paróquia ficava responsável para acompanhá-los(as) nas comunidades. A Diocese também tinha esse trabalho de saúde e mantinha um(a) atendente em muitas paróquias. As parteiras tradicionais também recebiam cursos e orientações das atendentes; aos poucos, elas iam mudando suas práticas supersticiosas que colocavam em risco a vida das crianças. Um pequeno projeto com recursos externos possibilitou a distribuição de malas com kits completos para as atendentes de saúde e para as parteiras tradicionais”.

E completa: “Percebendo a grande quantidade de crianças não registradas no município, padre João Cristiano tomou a decisão de só batizar crianças que tivessem certidão de nascimento. Essa atitude foi muito criticada na época, como um gesto arbitrário do padre. Porém, isso fez com que muita gente buscasse registrar seus filhos para não perder a possibilidade do sacramento. Hoje a população relembra esse fato e agradece ao padre por ter seu registro de nascimento”.
Na Eucaristia, vida dedicada a Cristo

* As fotos desta matéria são de Luciano Oliveira (as do enterro) e de arquivo

4 comentários:

  1. Grande perda para todos os seres humanos a doce figura do Padre João. Na última visita que fiz á Brotas quiz entrevistá-lo e ele me disse "eu não fiz nada,não tenho nenhuma importância, entreviste gente importante." Eu lhe respondi brincando:"Padre João, tudo bem, quro entrevistar o senhor porque gosto muito dos seus conselhos." E então ele deu a entrevista. Que Deus o tenha em sua santa glória.Nós o amamos para sempre.

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  2. Show de bola essa matéria. Parabéns Rosalvo.....

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  3. SOU HISTORIADOR, MORRO EM BARRA DO MENDES, ONDE O PE JOÃO RESIDIU POR ALGUNS.
    GOSTARIA DE SABER QUAL A DATA DO NASCIMENTO DO PE JOÃO E SE POSSIVEL N. DE TELEFONES DE PARENTES DELE NA HOLANDA

    EDIZIO MENDONÇA - BARRA DO MENDES - BA - ediziomestre@hotmail.com

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  4. Viajei com o padre Appelboom em março de 1972 de Amsterdam para Rio, no navio Eemland. O Eemland iria para Recife, mas no meio do oceano o destino foi mudado para Rio de Janeiro, prejudicando então o padre Appelboom. Vejo nas matérias sobre o padre que ele tinha o titulo de monsenhor. Ele tinha sido promovido? Como funcionou isso, já que ficou servindo como vigário em Brotas? Antecipadamente grato, Martinus

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