sábado, 31 de março de 2018

Festa do Divino é tradição do povo brotense







Brotas de Macaúbas inicia preparativos para a celebrar o dia de Pentecostes e começa o ritual a em Mata do Bom Jesus

Neste Domingo de Páscoa (1º de abril), quando a Igreja Católica celebra a Ressurreição do Senhor Jesus Cristo, Brotas de Macaúbas dá início à caminhada para a Festa do Divino de 2018, iniciando o ritual da Bandeira, que vai percorrer todas as comunidades da região, na mais antiga comunidade – de  Mata do Bom Jesus. A imperatriz Eliene Nunes e a capitã do Mastro Nilza da Lagoa de Dentro (em sua terceira participação nesse papel) começam um ritual de devoção que remonta dois séculos em Brotas, trazido que foi pelos primeiros desbravadores e garimpeiros cujas origens estão no Arquipélago de Açores, onde o Divino Espírito Santo tem características semelhantes às de nossa cidade.
A Festa de Pentecostes cai este ano no dia 20 de maio, mas em Brotas de Macaúbas serão 50 dias de celebrações. Primeiro, a imperatriz Eliene e capitã do mastro Nilza, vão de casa em casa, levando a bandeira do Divino no tradicional Canto das Esmolas, arrecadando donativos para a realização dos festejos. Em cada lugar há muitas demonstrações de fé e a emoção sempre é o ponto alto da passagem da Bandeira Sagrada. São momentos especiais de encontro das pessoas que retornam às suas comunidades de origem para o reencontro com familiares e amigos.
Depois de percorrer quase todo o município – hoje a Festa do Divino acontece de forma independente da Igreja Matriz em duas outras duas comunidades – Novo Horizonte e Cocal, esta como sede de uma pré-Paróquia -, o ritual das Esmolas chega à sede do município para cerca de dez dias de visita às casas. Prepara-se o povo para os momentos culminantes dos festejos de Pentecostes: na véspera, dia 19 de maio, a Cavalaria – chegada da Bandeira trazida por centenas de cavaleiros e amazonas e no dia seguinte a missa,. Procissão e escola dos novos imperador ou imperatriz e capitão ou capitã do Mastro.


Tradição bicentenária
Em Brotas de Macaúbas, o povo guarda essa devoção ao Dia de Pentecostes há mais de dois séculos, desde que os primeiros descendentes de portugueses açorianos chegaram à região, atraídos pelos diamantes, ouro e outras pedras preciosas que brotavam fartos do chão cheio de dádivas. Não se sabe ao certo a origem da devoção no município, mas a mais antiga capela em louvor ao Divino fica na comunidade de Minas do Espírito Santo, que hoje pertence ao município de Barra do Mendes, desanexado de Brotas em 1958. O mais provável é que os garimpeiros trouxeram a devoção por volta dos ano de 1.800. Em nossa região, a devoção cresceu principalmente entre as famílias Barreto, Novais, Araújo, Fernandes, Espírito Santo, Martins, Sodré e outras, espalhando-se por toda a região.
O milagre da vaquinha, encontrada no Boqueirão de Brotas, fez surgir a capela devotada a Nossa Senhora de Brotas, no entorno da qual floresceu a cidade de Brotas de Macaúbas que se transformou em importante município – tanto pela extensão de seu território como pela destaque político evidenciado na disputa entre os clãs dos Matos (Clementino e Horácio de Matos) e Coelho (Militão Coelho). Em Brotas a festa do Divino encontrou o seu templo principal e vem se repetindo em pompa e circunstância sempre organizada por Imperador/imperatriz e Capitão (capitça) do Mastro, figuras escolhidas em sorteio, a cada ano.

 A imperatriz de 2018, Eliene Ferro e...

... a capitã Nilza Maria


Imperatriz e capitã
Este ano, a primeira dama do município, Eliene Ferro Nunes e Dona Nilza Souza serão, respectivamente, imperatriz e capitã do mato. Logo após a Quaresma, acompanhadas por tocadores e cantadores, elas iniciarão os preparativos para o grande dia de Pentecostes. À imperatriz cabe levar a Bandeira do Divino em cada recanto do município, cantando tradicional ladainha e arrecadando donativos – as esmolas. A festa atrai a Brotas de Macaúbas uma legião de filhos, vindos de várias cidades da Bahia e do país.


Momento mágico da Cavalaria
A Festa do Divino é marcada por vários momentos de grande emoção, culminando com a Missa Solene, às 9h, no domingo (dia 20 de maio), quando acontecem ainda a procissão e o sorteio dos próximos imperador e capitão. Mas é no sábado que a cidade enche-se de gente para receber o Imperador e a Bandeira Divina que chegam triunfalmente com a tradicional Cavalaria. O tropel dos cavalos desperta a multidão e aumenta a algazarra. À frente, um cavaleiro ou amazona se destaca vestido(a) de vermelho com uma bandeira igualmente vermelha com uma pomba branca estampada. Atrás, um grande número de homens e mulheres montados a cavalo irrompe pela entrada da cidade ao som de sanfoneiros e sob o espocar de foguetes. A criançada corre de um lado para o outro, a multidão se agita e as palmas celebram um momento mágico – a entrada triunfal do imperatriz do Divino.
Esse ritual acontece todos os anos, há mais de uma centena de anos, na cidade baiana de Brotas de Macaúbas, incrustada feito um diamante valioso no coração da Chapada Diamantina (600 quilômetros de Salvador). A Festa do Divino acontece 40 dias depois da Páscoa quando a Igreja Católica celebra o Pentecostes (passagem bíblica que mostra a descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo, levando sabedoria aos apóstolos de Jesus Cristo).
A Cavalaria é uma tradição introduzida na região de Brotas de Macaúbas por imigrantes portugueses no final do século XVIII. É deles também a Procissão do Mastro (que lembra a trajetória de Jesus a caminho do Calvário) e a Fincada, que integram o calendário de uma das mais populares festas religiosas do interior do Brasil.


Ladainha das Esmolas
Em Brotas de Macaúbas, onde o sertanejo é simples e sofrido, ainda persistem traços do sotaque português em alguns trechos da Ladainha do Divino que os fiéis – ou não – repetem de casa em casa na visita da Bandeira, e que os brotenses chamam de Esmolas. Esse ritual, cheio de significado e fé, ajuda na integração social entre os moradores, mas continua sendo desvirtuado ultimamente tanto por imposição da Paróquia como pela falta de uma política pública cultural que garanta a tradição.
As Esmolas começam a ser “cantadas” desde o Domingo de Páscoa, pois precisa-se percorrer todas as vilas, distritos, comunidades e lugarejos da Freguesia. O imperador ou imperatriz leva a bandeira e o povo acompanha junto com sanfoneiros e cantadores. Esse ritual que mistura festa e devoção é motivador da força da fé que vai desaguar na grande manifestação de alegria que a Festa do Divino se reveste.
Orgulhoso por manter viva uma tradição que remonta das Cruzadas – das lutas entre cristãos e mouros -, o povo de Brotas de Macaúbas sabe que foi ali, da pequena vila criada ao redor da Igreja de Nossa Senhora de Brotas, que a devoção ao Divino Espírito Santo se espalhou para vários outros recantos da Bahia e do Brasil.



LADAINHA DAS ESMOLAS



É chegada em vossa casa

Uma formosa bandeira (bis)

E nela vem retratada

Uma pomba verdadeira (bis)



Divino Espírito Santo

Em vossa morada entrou (bis)

Vem correndo a freguesia

Visitando os morador (bis)



Essa pomba que aqui vem

É de Deus muito louvada (bis)

São as mesmas três pessoas

Da Santíssima Trindade (bis)



Vem pedindo a sua esmola

Que muito carece dela (bis)

Para serem festejadas

Dentro de sua capela (bis)



Divino Espírito Santo

Dono do Sol que nos cobre (bis)

Ele é dono do tesouro

Pede esmola como pobre (bis)



Ele pede é por pedir

Mas não é por carecer (bis)

Pede para experimentar

Quem seu devoto quer ser (bis)



Divino Espírito Santo

Divino consolador (bis)

Consolai as nossas almas

Quando desse mundo for (bis)



Quem se benze com a bandeira

Desse Divino Senhor (bis)

Benze Deus na sua graça

Dentro do seu resplendor (bis)



Quem dá esmola a esse santo

Não repara o que vai dar (bis)

Seja dez reais ou vinte

Fica mil em seu lugar (bis)



Deus lhe pague a esmola

Deus lhe dê muita saúde (bis)

A esmola é caridade

A caridade é virtude (bis)



Deus lhe pague a esmola

Se vos derem com grandeza (bis)

Deus permita que por ela

No reino do céus se veja (bis)






















Imperadores escolhidos por sorteio

O desejo de se tornar Imperador ou Imperatriz do Divino está no coração de cada brotense, filho ou não da terra e até religiosos. Grandes personalidades da cultura, das artes, do direito, fazendeiros, agricultores, comerciantes, e simples homens e mulheres do povo. Confira alguns desses imperadores nas fotos abaixo: 


COMO CHEGAR
Chega-se a Brotas de Macaúbas, de Salvador, pegando a BR-116. No Posto Paraguaçu, toma-se a BR-242 (Bahia-Brasília). São 600 quilômetros com direito à paisagem inóspita da caatinga, mas passando por lugares deslumbrantes da Chapada Diamantina, como o Morro do Pai Inácio e a Serra da Mangabeira. Brotas fica 140 depois da cidade de Seabra – 30 quilômetros após da descida da Mangabeira e a perigosa serpente de curvas, se pega a rodovia estadual (42 quilômetros), a partir do Entroncamento (Posto Luisão).
A estrada para Brotas está bem cuidada e o asfalto é recente e a paisagem gratifica, descortinando belíssimas serras, culminando com a verdadeira miragem da natureza que é o Vale da Colônia, com suas fazendas de muito verde. A cidade de Brotas de Macaúbas é cercada por morros, estando a 1.184 metros de altitude, o que lhe empresta um clima ameno. De dia o sol é tórrido, mas as noites de inverso são de muito frio mesmo.
Para quem vem de Brasília o caminho para Brotas é inverso, mas atravessa a mesma BR-242, no sentido contrário, passando por Barreiras, atravessando o Rio São Francisco em Ibotirama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário