segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Milton Santos ganha primeira biografia


 Casa em Brotas de Macaúbas onde nasceu o...
 
 .. geógrafo Milton Santos, biografado...
... pelo jornalista Waldomiro Júnior
 
Livro será lançado nesta terça-feira, Dia da Consciência Negra, e retrata a vida do geógrafo brotense

Será nesta terça-feira, 20, marcando o Dia da Consciência Negra, que o jornalista Waldomiro Santos Júnior lança a biografia do geógrafo Milton Santos, filho ilustre de Brotas de Macaúbas. O livro é resultado de criteriosa pesquisa realizada pelo autor que estará na tarde de autógrafos, a partir das 16h39min, na Assembleia Legislativa da Bahia, que promove o lançamento.

Outros dois livros bibliográficos, também de negros baianos, serão lançados pela Assembleia Legislativa do Estado, compondo a série intitulada Gente da Bahia. A biografia de Juliano Moreira tem a assinatura de Alexandre Lyrio e Vander Prata assina obra sobre Clarindo Silva, o rei do Pelourinho. Os livros tem distribuição gratuita, bastando solicitá-los na casa legislativa estadual.
Coragem de pensar
Nascido em 3 de maio de 1926, o professor Dr. Milton Santos (Milton de Almeida Santos ou Milton Almeida dos Santos), é com certeza o filho mais ilustre de Brotas de Macaúbas. Seu nome batiza hoje a Biblioteca Pública Municipal, localizada no antigo prédio da Prefeitura, na entrada da cidade. Geógrafo e livre pensador brasileiro, homem amoroso, afável, fino, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias atuais, é pensar, coragem que sempre teve.
Milton Santos nasceu em Brotas, onde seus pais foram professores por algum tempo, na casa onde hoje reside Raimundo Porto e a professora Lélia, na Praça Dr. João Borges. O doutor honoris causa em vários países, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 (o Nobel da geografia), nunca se esquivou de referir-se a Brotas de Macaúbas quando chamado a dizer onde nascera. Milton Santos foi também professor em diversos países (em função do exílio político causado pela ditadura de 1964), autor de cerca de 40 livros e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entre outros.

domingo, 28 de outubro de 2012

Prejuízo com a seca chega a 100% para agricultor

Brotas de Macaúbas também vive uma das piores estiagens de sua história

 
As fotos feitas por Luciano Brotense na região da Lagoa do Capim mostra a devastação causada pela estiagem onde as lavouras foram totalmente devastadas pela falta de chuva
O município de Brotas de Macaúbas – como resto todos os vizinhos - vive uma de suas piores secas. A situação é dramática principalmente na zona rural, onde os agricultores estão penando para salvar as criações (gado, cabras, galinhas e outros animais domésticos), uma vez que não há lavoura faz tempo. Na sede há racionamento de água, que só cai uma vez por semana nas residências. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), que acaba de concluir o segundo Mapa de Prejuízos causados pela Seca na Bahia, a pesquisa, realizada em quase 100 municípios de sete regiões do semiárido baiano, revela que a queda da produção chega a 100% em algumas lavouras e a 60% nos rebanhos.

Reportagem de Juliana Brito (A TARDE) diz que este levantamento indica os percentuais de perdas em diversos segmentos do setor agropecuário, mas não revela o tamanho do prejuízo financeiro. "Ninguém tem esse dado", afirma Eduardo Salles, secretário de Agricultura da Bahia. No entanto, ele reconhece que os danos provocados pela estiagem causaram prejuízo bilionário para o Estado.

João Martins, presidente da Faeb, avalia que em relação ao primeiro mapa, divulgado há 60 dias, a situação piorou muito. "Tivemos grandes perdas. Em abril passado, alertamos que a seca ia começar, de fato, de agosto em diante. O problema maior é agora", observa.

Na vizinha cidade de Ipupiara, a foto do vice-prefeito Ascir Leite mostra a Lagoa da cidade totalmente seca

Interior do Estado - A pesquisa foi feita nas macrorregiões de Senhor do Bonfim, Jacobina, Ipirá, Guanambi, Irecê, Jequié e Vitória da Conquista. O mapa ainda acrescentou as regiões de Juazeiro, no Norte, e de Feira de Santana, no agreste, por causa do rebanho de caprinos e da pecuária de leite e a agricultura de sequeiro, respectivamente.

O vice-presidente da Faeb, Humberto Miranda, lamenta a situação dos agricultores e pecuaristas baianos, descapitalizados com a estiagem. "O tempo vai passando e as agruras vão aumentando. O que resta aos produtores são as terras e as dívidas", ressalta.

Milho e feijão - Embora as perdas sejam enormes em toda a área pesquisada, Miranda acredita que o trecho de Senhor do Bonfim a Irecê, passando por Jacobina, seja o mais afetado. "Eu consideraria essa região pela extensão dela. Foi muito prejudicada porque é forte na agricultura de sequeiro (sem irrigação) e perdeu-se boa parte do rebanho e uma parte do que restou foi vendido a um preço muito baixo", explica.

O presidente do Sindicato Rural de Irecê (Sinpri), José Carlos Carvalho, afirma que o prejuízo causado pela seca aos produtores locais é "inestimável". "A nossa produção de sequeiro teve 100% de perda e a produção irrigada, 50%", avalia. De acordo com o Mapa de Prejuízos, em culturas como milho, feijão e mamona, as perdas chegaram a 100%. "Houve essa queda no milho e no feijão em mais de 200 municípios da região semiárida da Bahia", afirma Humberto Miranda.

A mandioca e o sisal também sofreram grandes prejuízos. Em Araci, por exemplo, a perda na mandioca foi de 80% e de sisal, 60%. Em Barra do Choça houve perda de 70% da lavoura. A situação compromete a geração e a manutenção de empregos. O sindicato local estima que 15 mil postos de trabalho foram perdidos. Em Itaberaba, a produção de abacaxi teve redução de 60%. A atividade é grande geradora de emprego nessa região.

Pecuária - A perda neste setor, verificada pela pesquisa realizada pela Faeb, foi de 60%, entre rebanhos bovinos, caprinos e ovinos. Em Juazeiro, a mortalidade dos rebanhos ultrapassou 30%. Na região sisaleira e bacia do Jacuípe, chega a 40%. "A perda foi principalmente de bovinos. A pecuária do semi-árido está sendo esfacelada", afirma o presidente da Faeb, João Martins.

O presidente do Sinpri, José Carvalho, exemplifica a situação ao falar de Irecê. "Chegou a tal ponto que as pessoas já estão vendendo as matrizes (animais usados para reprodução) em grande quantidade", revela.

Leite - Na avaliação do presidente da Faeb, os mais afetados são os pequenos pecuaristas de leite. "Essa é a única pecuária que o pequeno pode desenvolver", lamenta. Martins conta que essa parcela dos criadores tem dificuldade para ter acesso aos programas emergenciais da seca. Além disso, não podem pagar pelo recurso de pasto, que é a condução do gado a outros pastos. "Uma viagem dessa custa ao criador R$ 1,5 mil", diz.

Outro problema para o setor é a distribuição do milho subsidiado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os criadores baianos reclamam da demora da distribuição nos depósitos. O presidente da Faeb conta que tem conversado com a Companhia a respeito. A proposta da Federação é que o cereal vá para cada um dos municípios ao invés dos armazéns.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CORDEL CONTA VIDA DE BISPO


 
DOM LUIZ CAPPIO

O bispo guerreiro

contra a transposição

da maldade

                                                                                                       Autor: Rosalvo Martins Júnior

                                                                                                         Brotas de Macaúbas - Bahia

Vou pedir a proteção

Da santa Virgem Maria

Pra contar para vocês

A história da magia

De um bispo arretado

Homem culto e letrado

Que tem aqui na Bahia

 

Ele luta pelo povo

É contra a transposição

Das águas do Velho Chico

Pra ele coisa do cão

História que vou relatar

Para todos proclamar

É só prestar atenção

 

Foi numa greve de fome

Uma é história de verdade

Que o bispo se transformou

Para toda a eternidade

No grande bispo guerreiro

Justo, bravo e altaneiro

Contra a transposição da maldade

 

Ele nasceu em São Paulo

Lá em Guaratinguetá

Veio para o São Francisco

O povo evangelizar

Desde que usava sandálias

Carregando poucas tralhas

Como frei a proclamar

 

Dom Luiz Flávio Cappio

Assim ele foi batizado

Na fé em Cristo Jesus

E nunca mudou de lado

Sempre junto com a fé

Com Maria e com José

E Jesus crucificado

 

Ele é filho de imigrantes

De origem italiana

Mas se fez frei consagrado

Pela ordem franciscana

Onde frei Luiz se destaca

Feito ouro, feito prata

Vejam que coisa bacana

 

Jovem rapaz estudado

Formou-se em economia

Mas queria ser engenheiro

E estudou com alegria

Em seminário do Rio

Petrópolis terra de frio

Concluiu Teologia

 

Após sua ordenação

Foi para a Periferia

Da cidade de São Paulo

Antes de vir pra Bahia

Na Pastoral Operária

Aprendendo coisa rara

Se destacou dia a dia

 

Veio com a roupa do corpo

Para pregar no Nordeste

Isso tudo aconteceu

Nos anos setenta e sete

E no sertão nordestino

Ele se fez peregrino

Por isso faz e acontece

 

No Nordeste frei Luis

Descobriu coisa bacana

Que apesar da pobreza

Essa gente soberana

Cultiva a fé e a esperança

Velho, jovem e criança

Profunda riqueza humana

 

Uma forte ligação

Ele tem com São Francisco

Por isso veio parar

À beira do Velho Chico

Onde o povo o considera

E nunca fica na espera

Pelo trabalho bonito

 

Para ele o Velho Chico

Imita o santo do seu nome

Nasce rico e dá aos pobres

Matando a sede e a fome

É o pai e a mãe de todos

Não deixa ninguém bobo

Sejam mulheres ou homens

 

Sempre diz que se o rio é vivo

Bem para o povo há de ser

Mas se doente ou se morto

Fará toda gente sofrer

Por isso a luta incessante

Convoca a todo instante

Para o rio socorrer

 

Ao fazer 48 anos

Fez uma peregrinação

Da nascente à foz do rio

Prestando muita atenção

Em todos os seus problemas

Desde o maior aos pequenos

Numa ecológica missão

 

Falando a linguagem simples

Como se identifica o povo

Disse que o rio é presente

De Deus e nunca um estorvo

E a missão coletiva

Sem descanso, sem guarida

É preservar, isso é novo

 

Plantou um milhão de árvores

Nesse grande desafio

Dando exemplos concretos

E não deixando o vazio

Criando novos guardiões

Cidadãos e cidadãos

Os defensores do rio

 

A experiência ecológica

Logo lhe trouxe um norte

Ele escreveu grande livro

Que fala de vida e morte

Desse rio importante

Que está a todo instante

Entregue à própria sorte

 

Iniciou grande luta

Com missão religiosa

Mostrando pra toda gente

Idéia maravilhosa

Pois precisa preservar

E nunca mais depredar

Essa joia preciosa

 

Tornou-se bispo da Barra

Importante diocese

Aumentando a sua ação

Trabalho de catequese

Foi setenta e sete ano

Que num gesto tão humano

Ele assumiu essa messe

 

Como bispo teve voz

Pra denunciar o estrago

Que fizeram contra um rio

Que corta todo nosso estado

E contra a transposição

Sem disse um grande não

Postou-se do nosso lado

 

Fez uma greve de fome

Para chamar a atenção

Contra a agonia do rio

Que não pode morrer não

Mas isso pode acontecer

E todo mundo vai ver

Com essa transposição

 

É que o governo pretende

Fazer o que já foi dito

Tirando a água do rio

Só para fazer bonito

Nesse sertão tão esguio

Onde não se sente frio

Mas isso é muito esquisito

 

Em sua greve de fome

Desafiou até Lula

Ex-presidente que o povo

Idolatra e não anula

Mas o bispo deu seu recado

Sua queixa, o seu lado

Sua opinião, sua bula

 

Com o presidente Lula

Ele falou mais de uma vez

Expondo seus argumentos

E explicando o que fez

Na luta pela defesa

Dessa nossa grande riqueza

Do rio com altivez

 

Mesmo contra o presidente

Que ele até deu apoio

Dom Luiz teve a seu lado

Grande reforço do povo

Em sua greve de fome

Ele não citou o nome

Mas denunciou o estorvo

 

A greve foi interropida

Após selado o acordo

Com ministro Jaques Wagner

Que hoje governa o povo

E como nada foi feito

Muita falta de respeito

À greve voltou de novo

 

A decisão federal

De fazer a transposição

Com ajuda do Exército

Ao bispo agradou não

Ele retomou o protesto

E com esse nobre gesto

Nem comeu mais o feijão

 

A nova greve de fome

Não foi gesto solitário

Pois teve o apoio de todos

De artista e de operário

Dom Luiz mais uma vez

Reagiu com altivez

Se fez líder libertário

 

Os movimentos sociais

Mostraram que têm valor

Apoiando o religioso

Nesse seu novo labor

Mas o governo federal

Sem querer falar de mal

Nem mesmo assim recuou

 

A greve de fome pra ele

Foi experiência divina

De que a morte é passagem

E não o fim, uma sina

Pois é morrendo que se nasce

Na vida eterna renasce

Não é coisa pequenina

 

Gastaram muitos milhões

Pra sangrar o Velho Chico

Gritaram aos quatro ventos

Que era o que tava escrito

Mas tá tudo lá abandonado

Sem nenhum bom resultado

Isso eu não acho bonito

 

Dom Luiz denunciou

Que essa transposição

Era dinheiro perdido

Não faz bem para a nação

Nem a esse povo sofrido

Nesse labor tão doído

Pois somos todos irmãos

 

A luta de dom Luiz

Que o governo não deu trela

Teve o apoio do céu,

De frei Boff e Sabatela

Elba Ramalho e Esquivel

Nós fizemos escarcéu

Em bairro chique e favela

 

Após um mês de jejum

Mas com muita oração

Dom Luiz foi internado

Ao lado de seus irmãos

Que unidos protestavam

E a todos proclamavam

Contra a tal transposição

 

Muito fraco e deprimido

Celebrou sua missão

36 anos de sacerdócio

Junto ao povo do sertão

Finda a greve de fome

Mas o povo pouco come

E a luta acaba não

 

A vida de Dom Luiz

Esse bispo pobrezinho

Está virando cordel

E sonho do ribeirinho

De que o rio melhore

Mais piscoso se transforme

E não definha aos tiquinho

 

Queremos que o povo pense

Nesse momento estanque

Que a causa ecológica

É uma luta gigante

Pela vida e contra a morte

Contra o azar pela sorte

Desse rio importante

 

Durante a greve de fome

Desse líder ribeirinho

Ele respondeu aos bispos

Como muito jeito e carinho

Quando a razão se estingue

Mesmo que ela respingue

A loucura é o caminho

 

Dom Luiz seguiu para a Barra

Pregando contra a injustiça

Clamando atenção do mundo

Numa luta sem preguiça

É contra a transposição

Não arredou posição

Não vai deixar essa liça

 

Esse seu grito ecoou

Pelos prados e gerais

De todo canto do mundo

E o prêmio pela paz

Em Bruxelas recebeu

Reconhecimento mreceu

Da Christi Internacional

 

Foi na Romaria das Águas

Pros lados de Sobradinho

Que o prêmio foi entregue

A esse heroi ribeirinho

Seguidor de São Francisco

Dos santos o mais bonito

E também mais pobrezinho

 

Depois do prêmio da paz

Prestem muita ação

Veio a Fundação Kant

Que é do povo alemão

Premiar a Dom Luiz

Que a Deus sempre bemdiz

E que do mundo é cidadão

 

Do Brasil com todo mérito

A esse padre impoluto

Que se fez frei franciscano

E que é bispo muito justo

Ganhou com mérito e louvor

Pois ouviu-se o seu clamor

O Troféu João Canuto

 

E o dinheiro do prêmio

Ele aplicou com lisura

E um memorial aos mártires

Ele controi com bravura

Pra que jamais se esqueça

E que ninguém esmoreça

Na luta contra a ditadura

 

O bispo hoje é respeitado

Por ser pessoa bacana

Fiel devoto de Cristo

Com a força franciscana

De Ipupiara a Morpará

Barra e Guaratinguetá

Da Brotas a Ibotirama

 

Aqui termino meus versos

Muito feliz comovido

Por ter conhecido Dom Luiz

Esse bispo destemido

Que sem nunca recuar

Ainda muito ainda fará

Por nosso povo sofrido

   

Para Dom Luiz, o Velho Chico Imita o santo do seu nome, pois nasce rico e dá aos pobres
 

* Este cordel está publicado na Antologia dos Cordelistas do Território do Velho Chico